Ministério
Público do Trabalho aponta infrações na fábrica da empresa na Zona Franca de
Manaus. Em 2012, aconteceram 2.018 pedidos de afastamento por problemas de saúde.
Não é possível, no entanto, calcular o número preciso de pessoas que fazem
jornadas exaustivas e horas-extras abusivas. “A empresa foi notificada a
apresentar a documentação referente a jornada, mas se recusou a mostrá-la”,
afirma Ilan Fonseca, um dos procuradores do MPT que assina a ação. Nela, os
procuradores pedem que a empresa conceda pausas aos empregados.
Para preparar uma caixa de
telefone celular com carregador de bateria, fone de ouvido e dois manuais de
instrução, o empregado da fábrica da Samsung localizada na Zona Franca de
Manaus dispõe de apenas seis segundos. Finalizada essa etapa, a embalagem é
repassada ao funcionário seguinte da linha de montagem, que tem a missão de
escanear o pacote em dois pontos diferentes e, em seguida, colar uma etiqueta.
Em um único dia, a tarefa chega a ser repetida até 6.800 vezes pelo mesmo
trabalhador.
Na
fábrica erguida no coração da maior floresta tropical do planeta pela multinacional
de origem sul-coreana – que em 2012 registrou lucro líquido recorde de US$ 22,3
bilhões – uma televisão é colocada em uma caixa de papelão a cada 4,8 segundos.
A montagem de um smartphone, feita por dezenas de trabalhadores dispostos ao
longo da linha de produção, leva 85 segundos. Já um ar-condicionado split fica
pronto em menos de dois minutos.
Os dados que poderiam inspirar uma versão amazônica de “Tempos
Modernos”, do cineasta Charles Chaplin, constam de uma Ação Civil Pública (ACP)
ajuizada na última sexta-feira (10) contra a Samsung pela Procuradoria Regional
do Trabalho da 11ª Região do Ministério Público do Trabalho (MPT). Mas os
problemas não param por aí. O MPT flagrou diversos empregados que trabalham até
dez horas em pé, assim como um funcionário cuja jornada extrapolou 15 horas em
um dia e um empregado que acumulou 27 dias de serviço sem folga.
Por conta dos riscos à saúde de seus empregados imposto pelo ritmo
intenso e pela atividade repetitiva da linha de montagem, eles cobram uma indenização
por danos morais coletivos de, no mínimo, R$ 250 milhões da companhia
sul-coreana, líder mundial do mercado de smartphones. Procurada pela Repórter
Brasil, a assessoria de imprensa da Samsung enviou nota afirmando que “assim
que recebermos a notificação sobre este caso, realizaremos uma análise do
processo e cooperaremos plenamente com as autoridades brasileiras”. Os
representantes da empresa também dizem que estão “comprometidos em oferecer aos
nossos colaboradores ao redor do mundo um ambiente de trabalho que assegura os
mais altos padrões da indústria em relação à segurança, saúde e bem-estar”.
“Essa Ação Civil Pública é importante porque o valor postulado
possui um efeito pedagógico”, afirma Luiz Antônio Camargo de Melo, Procurador
Geral do Trabalho, que também assina a ação. “A sujeição de trabalhadores a
jornadas de 15 horas é algo inadmissível, especialmente em uma empresa do porte
da Samsung”, completa o representante máximo do MPT.
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