Considerando todas as classes consumidoras, o reajuste médio será de 16,77% e vale a partir da próxima terça, 22
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pegou o consumidor cearense de surpresa ao autorizar, na manhã de ontem, reajuste de até 17,02% nas tarifas de energia praticadas pela Companhia Energética do Ceará (Coelce). O índice supera em mais de três pontos percentuais os 13,83% pleiteados pela concessionária ao órgão regulador, conforme o Diário do Nordeste divulgou com exclusividade na edição do último dia 8 de abril.
Com o aumento, os consumidores residenciais - cerca de 79% dos usuários da empresa, ou 2,53 milhões - vão pagar, por exemplo, 16,55% a mais nas contas de luz; enquanto que o setor industrial desembolsará, em média, 16,16% acima do que vinha pagando pela energia elétrica.
Já o comércio será impactado em 17,02%. Considerando todas as classes de consumidores, o cearense desembolsará, em média, 16,77% a mais pelo serviço. O reajuste autorizado é o maior desde 2005, quando as tarifas praticadas pela Coelce foram elevadas, em média, em 23,59%. Os novos valores entram em vigor a partir da próxima terça-feira, dia 22.
Maior do Nordeste
O aumento autorizado para o Ceará foi o maior homologado até então, pela Aneel, para as concessionárias que operam nos estados nordestinos. Entretanto, levando-se em conta todas as regiões brasileiras, o índice da Coelce só perde, até agora, para a CPFL Santa Cruz, uma das distribuidoras do Estado de São Paulo, que teve reajuste de 30,64% para a classe residencial, por exemplo. Vale ressaltar, também, que a maior parte dos acréscimos autorizados contradiz a afirmação da Aneel de que não há tendência de alta na energia na casa dos dois dígitos no ano em curso.
Quase três vezes a inflação
Além de superar o pleito da Coelce à Aneel, o índice de até 17,02% autorizado pela Agência também chama a atenção por representar quase três vezes a inflação acumulada nos 12 meses anteriores ao reajuste - 5,97% -, medida pelo Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M), indicador utilizado pelo setor para corrigir preços, conforme a proposta de reajuste tarifário apresentada pela distribuidora.
Acima da expectativa do BC
O aumento aprovado também ficou bem acima - cerca de 7,5 pontos percentuais - da expectativa do governo federal de reajuste médio de 9,5% nas tarifas de energia, em 2014, no País, conforme o último relatório de inflação, divulgado no dia 27 de abril deste ano pelo Banco Central.
Aneel justifica diferença
Segundo a Aneel, foram autorizados apenas 8,09% como índice de reajuste tarifário para Coelce, em 2014, contra os 13,83% solicitados pela companhia. A diferença para cima entre reajuste médio aprovado (16,77%) e o que de fato foi homologado pela Agência, justifica o relator do processo, o diretor Reive Barros dos Santos, se deve à atualização do IGP-M acumulado em 12 meses considerado para o reajuste (7,3%), à previsão dos encargos setoriais, principalmente o ESS (Encargos de Serviço do Sistema), a valores de compra de energia, à previsão de sobrecontratação de energia e a pleitos financeiros não reconhecidos. Em conjunto, esses itens resultaram em um acréscimo de 8,69% sobre o índice de reajuste considerado (8,09%), totalizando, assim, um aumento médio de 16,77% na conta de luz.
Em relação aos pleitos financeiros não reconhecidos, destacam-se o recálculo dos preços de repasse para Termofortaleza desde 2009, o reconhecimento da parcela definitiva de Combustível (Comb), referente ao valor normativo do contrato entre a empresa CGTF Fortaleza e a Coelce, e aquele devido ao retroativo da liminar judicial da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Nota da Coelce
Por meio de nota divulgada à imprensa, o diretor de Regulação e Meio Ambiente da Coelce, José Alves, o índice médio de 16,77% é resultado da diferença entre o reajuste autorizado pela Aneel para este ano e a retirada de itens financeiros que durante o ano de 2013 reduziam o valor da tarifa. "O que impactou o resultado da tarifa este ano foi a retirada do efeito redutor que incidiu em 2013, correspondente a itens financeiros de devolução de valores aos consumidores, além do reajuste de 8,09% autorizado este ano pela Aneel".
Ainda de acordo com a Coelce, nos últimos cinco anos, a tarifa residencial da empresa , sem impostos, apresentou, em média, queda de 5,4%, enquanto o IGP-M acumulado em igual período foi de 35,4%.
"Realizado anualmente, o reajuste tarifário visa preservar o equilíbrio econômico-financeiro da concessão", afirma. No reajuste deste ano, a distribuidora de energia destaca que, considerando apenas a parcela destinada ao serviço de distribuição, a alta foi somente de 1,38%, "bem abaixo da inflação registrada para o período (7,3%)". Entretanto, o principal impacto deste reajuste, avalia a distribuidora, se deve à majoração dos custos com a compra de energia, que estão em patamares elevados desde de 2013, e que se agravaram neste inicio de ano. "Conforme definido pela Aneel, este reajuste já contempla a devolução da ultima parcela, devidamente atualizada, referente ao congelamento das tarifas no ano da revisão tarifária em 2011".
Mesmo diante das explicações tanto da agência reguladora como da concessionária, o presidente do Conselho de Consumidores da Coelce, Erildo Pontes, afirma que há falta de transparência no processo de correção das tarifas de energia no Estado.
"Antes da reunião para a aprovação do aumento, fomos à Aneel pedir para ver os números e a Agência nos negou essa solicitação, afirmando que só no dia 7 deste mês teríamos acesso. Além disso, no último dia 10, na reunião do Conselho de Consumidores, convidamos um representante da Coelce para participar a fim de explicar o índice solicitado, e o número considerado mais uma vez foi os 13,83% pleiteados. E ele nos chegou a dizer ainda que esse percentual poderia cair para em torno de 8% a 9%, mediante o decreto 8.221 da União, do dia 2 de abril deste ano, que trata da mitigação dos elevados valores de compra de energia no mercado spot. Então é de estranhar que a Aneel venha, agora, com um aumento que pode chegar a 17%", critica.
"Minha preocupação é que no ano que vem, quando dizem que virá o aumento maior (do socorro às distribuidoras), o que nos aguarda", argumenta.
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