Ao deixar Presidência da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha ganha tempo em processo de cassação do seu mandato. Reunião da CCJC que avaliaria recurso do peemedebista foi adiada, e votação poderá ser refeita no Conselho de Ética
Aquilo que parecia a derrota definitiva do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pode ser mais um passo na tentativa de salvá-lo. A renúncia à Presidência da Casa, anunciada ontem, teria sido articulada por aliados e pelo próprio governo para, se não salvar o mandato do parlamentar, pelo menos atrasar sua cassação. Com novo recurso na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), o processo de Cunha tem chances de voltar ao Conselho de Ética, onde já se consagrou como mais demorado da história.
Segundo o jornal O Globo apurou, o “acordão” com aval do presidente em exercício, Michel Temer (PMDB), foi uma forma de distensionar os ânimos e prevenir que Cunha tivesse reação perigosa diante de sua derrocada. Tanto aliados como governo temem os efeitos de uma possível delação de Cunha caso perca o mandato.
Sob o argumento de que as circunstâncias mudaram, por não ser mais presidente, a defesa de Cunha entrou com novo recurso, parte do plano para adiar sua saída do Parlamento. Por meio de suposto acordo entre aliados e governo, o presidente da CCJC, Osmar Serraglio (PMDB-PR), cancelou a próxima sessão da Comissão alegando que precisava de tempo para analisar o aditamento. A decisão por si atrasa o processo de cassação e tira a possibilidade de ele ser concluído antes do recesso da Casa.
Prevista para segunda-feira, 11, a sessão deveria votar o relatório do aliado de Cunha, Ronaldo Fonseca (Pros-DF), que pedia o retorno do processo ao Conselho de Ética por supostas irregularidades no rito de votação. A derrota do relatório significaria que o Plenário seria a próxima parada do processo de cassação, podendo ser votado na data de escolha do presidente interino Waldir Maranhão (PP), ex-aliado de Cunha.
Sem apoio da maioria, o acordo permitiu que Cunha ganhasse mais tempo para se defender no Supremo Tribunal Federal (STF) enquanto ainda possui foro privilegiado. Por outro lado, a decisão de deixar a Presidência tirou Maranhão do caminho e abriu a possibilidade de negociação de eleger novo presidente, mais favorável ao governo.
A renúncia
“Estou pagando um alto preço por ter dado início ao impeachment”, disse Cunha em seu discurso de renúncia. Na carta oficial, ele disse ainda que cedia à pressão de aliados. O deputado chegou a chorar durante a coletiva de imprensa em Brasília.
De acordo com Cunha, desde seu afastamento, em 5 de maio, a Câmara teria ficado “acéfala” e diante da imprevisibilidade de seu retorno às funções, ele teria decidido abrir mão do cargo. O deputado prometeu que continuaria lutando por sua inocência. (com agências de notícias)
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