Na mais forte reação do PT às denúncias de corrupção contra integrantes do partido, a direção nacional da legenda vai distribuir a partir desta quarta-feira, 11, milhares de cópias de uma cartilha na qual acusa a força-tarefa da Operação Lava Jato, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e setores da imprensa de agirem deliberadamente, com base em “mentiras”, para “eliminar o partido da vida política brasileira”.
Em 34 páginas, o documento “Em defesa do PT, da verdade e da democracia” relaciona as conquistas do partido nos 12 anos de poder, inclusive na área do combate à corrupção”, e descreve o que chama de campanha para criminalizar o partido, dirigentes e o seu maior expoente: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Mentem sob a proteção da toga, nos mais altos tribunais, afrontando a consciência jurídica da Nação em rede nacional de TV. Mentem sob a impunidade parlamentar, disseminando o ódio nas redes sociais. Mentem sob a proteção da autonomia funcional, forjando procedimentos investigatórios sem base alguma, apenas para produzir manchetes. Mentem sob a proteção do anomimato covarde, contrabandeando para a mídia dados parciais e manipulados por meio de vazamentos criminosos”, diz o texto.
Conforme a cartilha, “desde a campanha eleitoral de 2014 adversários escolheram as investigações da Operação Lava Jato para insistir em criminalizar o partido”. Para embasar a tese, o texto cita fatos históricos como o caso de Leme (SP), em 1986, em que um delegado acusou falsamente petistas de atirarem contra trabalhadores rurais, e o sequestro do empresário Abílio Diniz, às vésperas das eleições de 1989, quando a polícia de São Paulo obrigou os sequestradores a vestirem camisetas do partido.
“A maneira sistemática, violenta e insultuosa com que estas mentiras vêm sendo difundidas não deixa dúvidas quanto aos objetivos de seus mentores: querem eliminar Lula e o PT da cena política brasileira, temendo sofrer a quinta derrota consecutiva nas eleições de 2018”, diz o texto.
No domingo, o Jornal O Estado de São Paulo noticiou que procuradores da Lava Jato devem acionar judicialmente os partidos envolvidos no esquema de desvios da Petrobrás para cobrar o ressarcimento dos valores desviados.
Doações
Embora a cartilha tenha sido elaborada antes da decisão dos procuradores, o PT incluiu na publicação tabelas mostrando valores de doações de empresas investigadas pela Lava Jato ao PSDB. Segundo o PT, as 17 empreiteiras investigadas doaram R$ 619 milhões ao PT e à campanha da presidente Dilma Rousseff e R$ 601 milhões ao PSDB e à campanha de Aécio Neves em 2014. “Se a origem das doações é a mesma, por que criminalizar apenas as contribuições ao PT?”, questiona o documento.
Nesse ponto, a cartilha indaga por que as investigações da Lava Jato se concentram no PT. “As 17 empresas investigadas na Operação Lava Jato não têm contratos apenas com o governo federal, mas com governos estaduais e prefeituras controladas pelo PSDB e outros partidos. Por que investigar e criminalizar somente relações dessas empresas com o PT?”. A cartilha cita ainda que outros partidos “incluindo os moralistas mais hipócritas: PPS, DEM e Solidariedade” também receberam recursos dessas empresas.
O texto cita como contraponto o caso de São Paulo. “Governado há 22 anos pelos tucanos, São Paulo é o paraíso das doações empresariais. Diferentemente do que ocorre em nível nacional, em que as contribuições são equilibradas entre PT e PSDB, em São Paulo os tucanos receberam 2 vezes mais dinheiro do que os candidatos do PT nas eleições de 2010 e 2014”.
Outro alvo é Gilmar Mendes, autor de um pedido de investigação das contas da campanha de Dilma no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “São notórias as ligações de Gilmar Mendes com os tucanos, assim como é escancarado seu comportamento faccioso contra o PT, tanto no STF quanto no TSE”, diz o texto.
Narrativa
A cartilha vem sendo elaborada pela direção petista desde agosto e será distribuída tanto em formato impresso quanto digital. A ideia, já defendida várias vezes pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é criar uma narrativa própria para a situação política atual.
A ordem da direção petista é difundir o máximo possível o conteúdo do documento por meio dos canais da legenda nas redes sociais, da Agência PT de Notícias e diretórios petistas. No primeiro momento foram impressos 5 mil exemplares que têm como alvo a imprensa, diretórios e parlamentares do partido. Uma segunda edição já foi encomendada.
“É a nossa defesa que vai ser usada agora e na campanha eleitoral, um resumo dos ataques que o PT vem sofrendo desde a fundação”, disse o presidente do PT, Rui Falcão.
Segundo ele, o objetivo não é atacar os adversários mas impedir um processo de criminalização da atividade política. “Não estamos atacando o PSDB. As doações que eles receberam (de empresas investigadas pela Lava Jato) são semelhantes às nossas mas não estamos dizendo que é propina. Queremos fazer as pessoas refletirem um pouco”, disse Falcão. “Para o PT os procuradores são suspeitos para conduzir a ação porque não são imparciais nem impessoais, exigências do serviço público”.
Integrantes do Ministério Público Federal afirmam que só irão se manifestar depois de terem acesso à íntegra da cartilha. A reportagem aguarda respostas do PSDB e da assessoria do ministro Gilmar Mendes.
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