O homem mais velho do mundo pode ser um cearense. José Aguinelo dos Santos, filho de escravos, diz ter nascido no dia 7 de julho de 1888, em um quilombo, no município de Pedra Branca – poucos meses depois de a Princesa Isabel assinar a Lei Áurea, no dia 13 de maio do mesmo ano.
Aguinelo tem 126 anos e vive, atualmente, em um abrigo, na cidade de Bauru, em São Paulo. Sobre a infância no interior cearense, lembra apenas de ter morado com os pais e mais 6 irmãos, em uma casa grande, refúgio de escravos, onde não havia camas e todos dormiam no mesmo lugar. “Ele relata que nunca foi escravo, pois nasceu poucos meses depois da Abolição, mas sua mãe era”, conta a psicóloga da casa de repouso, Mariana Canassa.
A data de nascimento de “Zé Aguinelo”, como é chamado pelos companheiros do abrigo, foi estabelecida, em 2000, por um juiz da comarca de Bauru. Não há documentos que comprovem o ano em que ele nasceu, mas sua idade foi estipulada através de relatos contados pelo cearense.
“Antigamente, não havia burocracia para o acolhimento no abrigo, então, não era necessário que ele tivesse todos os documentos. Com o passar do tempo, para ser atendido pela rede pública, ele precisava de uma documentação. A partir daí, deu-se início ao processo de busca por uma certidão”, explica Mariana.
Ela diz que o idoso chegou ao abrigo em 1973, aos 85 anos, levado pelo antigo patrão, um grande fazendeiro da região. Desde criança, Aguinelo trabalhou na roça e deixou o Ceará rumo a São Paulo, em busca de trabalho. A família viveu durante um tempo, em Pedra Branca, mas mudou-se para a capital paulista, na época das construções das cidades metropolitanas.
Com o tempo, o pai resolveu ficar em São Paulo e Aguinelo mudou-se com o irmão para o interior. A partir daí, a família começou a se separar. “Aqui ele trabalhou em uma plantação de cana, mas, antes de se estabelecer em Bauru, foi visitar os outros irmãos em diversos lugares”, relembra Mariana.
Cearense é considerado saudável para a idade
Apesar da idade avançada, Aguinelo não possui problemas graves de saúde e faz suas refeições sem o auxílio de profissionais. É introspectivo, mas não consegue ficar sozinho por muito tempo. Nos finais de tarde, gosta de cantar músicas antigas para os colegas e funcionários do abrigo.
O grande problema mesmo, segundo Mariana, é a hora do banho. “Ele não gosta muito de tomar banho. Antes, ele subia em uma mangueira que tem aqui, para fugir do banho. Por várias vezes, a equipe de enfermagem precisou subir na árvore para resgatá-lo”, relata, com bom humor, a psicóloga.
Zé Aguinelo também não gosta muito de participar das atividades oferecidas pela casa de repouso, como fisioterapia e pintura. Para incluí-lo nas dinâmicas do grupo, Mariana conta que a plantação de uma horta irá fazer parte da rotina da casa.
“Ele está sempre em grupo, mas não gosta de fazer as atividades. Respeitamos isso porque faz parte dele, da cultura dele. Vamos começar a plantar uma horta e achamos que, assim, ele vai gostar de participar, já que ele gosta de trabalhar na roça”, explica.
O gosto pela plantação é tanto, que, ao encontrar uma enxada largada, no terreno do abrigo, Zé Aguinelo começou a capinar em lugares impróprios, estourando o encanamento da casa. “Ele carpia em lugares que não podia e já estourou vários canos”, brinca Mariana.
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