sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Com um dos piores cenários do Estado, Boa Viagem depende de poços

Açude que abastece Boa Viagem, no Sertão Central, deve ser considerado seco até a próxima semana. Torneiras só têm água a cada três dias. "A cada dia, o colapso se aproxima", diz gestora de água do Município

Do local onde, há alguns anos, já era margem do açude Vieirão, que abastece Boa Viagem (a 221 km de Fortaleza, no Sertão Central), hoje é possível andar 100 metros, no mato e em terreno ressecado, até encontrar água. A capacidade do açude é de 20 milhões de m³, mas disso resta apenas 0,58%, e a previsão da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) é de que, no próximo dia 15, o reservatório esteja seco (sem possibilidade de sucção).

Já foram perfurados 75 poços para incrementar o abastecimento da cidade, inclusive fora da sede. Mas somente 19 tiveram vazão para serem incorporados à rede e seis estão em processo de conclusão. Boa Viagem é a sede em pior situação hídrica na região da sub-bacia do Banabuiú, resume o gerente regional da Cogerh em Quixeramobim, Paulo Ferreira. “A nossa cidade tem uma situação das mais delicadas”, lamenta a diretora do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Regina do Vale.
Com o açude quase vazio, poços que não alcançam água e sem poder ser contemplada com uma Adutora de Montagem Rápida (AMR), a população tem de conviver com torneiras que somente têm água durante 15 horas a cada três dias. “A gente vai escapando como Deus deixa. Ainda tem água, mas ninguém sabe até quando”, lamenta o motorista Antônio Pereira, 63.
Futuro
Quando o açude da cidade secar, o abastecimento deve ser realizado quase somente através de poços. A rede hídrica da sede já tem quase 30% da vazão com essa fonte. A prioridade, explica o gerente da Cogerh, é de que as perfurações sejam feitas na própria cidade para facilitar a injeção na rede, mas já há prospecções afastadas do centro. Um estudo geofísico é realizado pela companhia para encontrar as fendas que podem conter água no subsolo. “Mas nós não temos uma tecnologia que garanta 100% que no poço tem água”, comenta Paulo Ferreira. 
“A cada dia, o colapso se aproxima e, enquanto isso, a gente vai trabalhando alternativas”, indica Regina do Vale, diretora do Saae. Com a previsão de 2016 ser mais um ano de seca no Ceará, a diretora afirma que Boa Viagem deve ser abastecida por fontes de captação mista: alguns bairros com poços profundos injetados na rede, uns com chafarizes e outros com carros-pipa. O racionamento, que acontece desde fevereiro de 2012, estimulou que parte da população cavasse poços próprios ou comprasse água.
Hoje, o Vieirão tem somente 128 mil m³ de água, de acordo com Paulo Ferreira. O volume já se aproxima do limite considerado viável para a captação (100 mil m³), afirma. Em uma semana, isso não será mais realizado porque será necessário um gasto muito alto para o bombeamento. “Nesses últimos dias, houve algumas precipitações e diminuiu a evaporação. Pode ser que esse prazo aumente um pouco”, aponta Paulo. A bomba de captação da água está numa área em que a profundidade é de apenas três metros. Quando chegar a esse ponto, a previsão do Saae é de cavar a área ainda inundada para tentar dar sobrevida ao açude.

0 comentários:

Postar um comentário